Carnaval de Torres Vedras – Tradição, sátira e identidade portuguesa

Pedro Nunes Pedro Nunes
Factos verificados - André Costa

Registado no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial Nacional, o Carnaval de Torres Vedras é uma festividade de cariz urbano, baseada num conjunto de manifestações sociais, performativas e rituais, que os torrienses reconhecem como fazendo parte integrante do seu património cultural.

O Carnaval é uma manifestação social, performativa e ritual protagonizada por toda a comunidade, transmitida e recriada de geração em geração, independentemente da proveniência geográfica (meio urbano ou rural), do género ou da idade.

Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial Nacional

Carnaval de Torres Vedras

O Carnaval de Torres Vedras revela características tipicamente urbanas – provenientes de uma elite local republicana e de um grupo social comercial e industrial emergente, que no início do século XX introduziu o corso, os carros alegóricos, as batalhas de flores e os Reis do Carnaval (influenciado pelas tradições carnavalescas francesas e italianas).

Simultaneamente, apresenta alguns vestígios do entrudo rural, designadamente a queima do entrudo na quarta-feira de cinzas.

O Carnaval de Torres Vedras festeja-se nas ruas da Cidade e estende-se, atualmente, por seis dias. A sua singularidade assenta nas seguintes características:

O Carnaval de Torres Vedras caracteriza-se pela participação de associações carnavalescas (grupos com estrutura formal que estão envolvidos, de forma direta ou indireta, na sua produção ou reprodução) e de outros elementos da comunidade que se envolvem autonomamente e participam nos festejos carnavalescos. Atualmente existem seis associações carnavalescas:

Existem, ainda, cerca de 40 grupos de mascarados que, tal como as associações carnavalescas, se organizam de forma voluntária e participam no Carnaval de Torres Vedras.

Centenário do Carnaval

Centenário do Carnaval de Torres Vedras

As comemorações do Centenário do Carnaval de Torres Vedras decorrem entre 17 de fevereiro de 2023 e 14 de fevereiro de 2024.

Foi em 1923 que teve início a “dinastia” Régia, inicialmente apenas com o Rei, protagonizado por Álvaro André de Brito. Nesse ano, realizou-se a primeira receção ao Rei do Carnaval, na estação ferroviária de Torres Vedras, a que se seguiu um cortejo carnavalesco pela então vila, com paragem em cada coletividade. No ano seguinte, surgiria a primeira Rainha do Carnaval de Torres Vedras, interpretada por Jaime Alves.

O ano de 1923 marca o início da tradição do Rei do Carnaval de Torres Vedras, ainda que as manifestações carnavalescas sejam seculares.

O ritual de chegada dos reis e entronização marca o início do período carnavalesco, baseado numa inversão dos poderes sociais, seja através da leitura do discurso satírico proferido pela figura do ministro, nos seus primórdios, ou na entrega das chaves da cidade pela presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras aos Reis do Carnaval de Torres Vedras.

A receção dos Reis consistia num cortejo real que tinha início na estação ferroviária e seguia até ao Centro Histórico (com passagem pelas associações recreativas), acompanhado pelos ministros e pelas suas Matrafonas, bem como pela banda filarmónica dos bombeiros.

Os filmes da década de 1930 que documentam este ritual mostram que os Reis assistiam à leitura do discurso pela figura do “primeiro-ministro”, momento satírico que simbolizava a inversão do poder.

A tradição do cortejo dos Reis poderá ter sido inspirada na tradição existente em Lisboa entre 1904 e cerca de 1930. No entanto, a investigação aponta para que a chegada dos Reis e o cortejo tenha sido inspirada num episódio histórico local: a chegada de comboio de D. Manuel II a Torres Vedras no âmbito da comemoração do centenário da Batalha do Vimeiro, em 1908, que terá sido replicado e encenado satiricamente no período carnavalesco.

Note-se que o surgimento do Carnaval de rua foi impulsionado por uma elite local republicana, que aproveitara o período carnavalesco para ridicularizar e satirizar os aparatos e protocolos reais.

Desta forma, aponta-se para que a origem deste ritual tenha assente numa combinação entre a reprodução de uma tradição existente em Lisboa com a memória social de um evento local, tendo sido apropriada pelos atores sociais até aos dias de hoje.

Os Reis partiam de Runa e chegavam de comboio à estação ferroviária de Torres Vedras, até cerca de 1980. Após alguns anos de interrupção, o ritual voltou a ser encenado a partir da estação ferroviária de Torres Vedras.

Comemorações do Centenário do Carnaval

O programa das Comemorações do Centenário do Carnaval integra manifestações culturais e momentos festivos de carácter diversificado, congregando os cidadãos, mobilizando a participação da sociedade torriense e apoiando as iniciativas promovidas a nível local pela sociedade civil.

Pretende-se que as Comemorações do Centenário deixem uma marca para o futuro e que constituam um testemunho da herança do Carnaval.

Para planear e implementar este programa foi constituída a Comissão de Honra, que assume o alto patrocínio das Comemorações do Centenário, a Comissão Executiva, que prepara, organiza e coordena as Comemorações, e a Comissão Consultiva, que assiste a Comissão Executiva no exercício das suas competências.

Pedro Nunes

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Editor Principal e Autor do Centa Torres

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André Costa

André Costa

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